“Dor de cabeça não tem cura! Você deve se acostumar com sua”.
Gosto de começar com este pois para mim é o pior! Infelizmente muito divulgado inclusive no meio dos profissionais de saúde. As dores de cabeça em sua grande maioria tem controle adequado e alguns casos cura. É importante o diagnóstico correto e o tratamento adequado (preventivamente). É possível viver sem dor e NUNCA devemos condenar os pacientes a sentí-la.
“Analgésicos resolvem o problema”.
Esse é um dos erros mais comuns –e perigosos– em relação à enxaqueca. Freqüentemente, os pacientes se automedicam com esses remédios, tomando doses progressivamente mais altas. O problema é que o abuso de analgésicos contribui para cronificar as dores. Além disso, nem sempre eles dão conta de acabar com uma crise de enxaqueca. Existem medicamentos específicos para o problema que, apesar de também agravarem as crises quando em excesso, são mais eficazes. A Sociedade Brasileira de Cefaléia recomenda o uso de, no máximo, dois comprimidos por semana (dez por mês) de qualquer remédio para cortar a dor de cabeça. Menos de três meses seguidos de abuso já são suficientes para cronificar as dores.
“A enxaqueca é uma doença inofensiva.”
Sabemos hoje que é um mito. Apesar de ser considerada uma doença benigna, que raramente gera complicações sérias, a enxaqueca compromete muito a vida do paciente. Além de ficarem menos produtivos e de faltarem ao trabalho e a eventos sociais na hora das crises, muitos sofredores de enxaqueca acabam perdendo oportunidades sociais e profissionais por receio de que a dor apareça. As complicações graves da enxaqueca são raras, mas podem ocorrer. Mulheres que têm aura muito prolongada correm mais risco de ter o chamado infarto migranoso, principalmente se forem fumantes e usarem pílula anticoncepcional.
“É preciso fazer exames para diagnosticar corretamente as dores de cabeça”.
Solicitados freqüentemente a pacientes com suspeita de enxaqueca, exames como tomografia, raio-X e ressonância magnética não detectam o problema.
Eles apenas servem para afastar a possibilidade de outras doenças, como tumores. Na maior parte das vezes, não são necessários. O diagnóstico da enxaqueca é clínico, feito no consultório a partir do histórico do paciente e de testes neurológicos.Apenas exames mais sofisticados, como o pet scan, permitem observar os lugares no cérebro que são ativados na hora da crise de dor, mas são usados somente em pesquisas científicas
“Vinho é um causador de dor de cabeça”
Sim, isto não é um mito mas não acontece em todas pessoas. As pessoas que têm enxaqueca podem ter suas crises desencadedas por uma substância chamada tiramina que atua sobre os vasos sanguíneos. Há também a presença em grande quantidade dos radicais fenólico flavonóides que está presente na casca da uva escura. Assim o vinho é um potencial causador de crises de enxaqueca, principalmente o tinto.
Lembrem-se que bebida alcoólica em grande quantidade pode causar cefaléia em qualquer pessoa, mesmo que não seja portadora de enxaqueca.
“Minha dor de cabeça é divido a problemas no estômago e no fígado … Isto pode ser verdade”.
Este é um grande mito que ouvimos diariamente no consultório. Alguns alimentos podem ser desencadeantes das crises de dor de cabeça porém não têm nenhuma relação com o fígado ou estômago. O estômago pode também ser uma vitima da enxaqueca que faz com ele fique paralisado e não absorva bem os alimentos podendo ocorrer enjôo e vômitos, mas lembrem-se que ele não é o culpado e sim vitima da enxaqueca.
“A dor de cabeça crônica pode ser devido a sinusite”.
Esta é uma questão que está presente até mesmo no meio médico. É um mito porque as sinusites não causam cefaléias crônicas e sim agudas. Para se diagnosticar sinusite geralmente o paciente está prostrado, com febre, secreção nasal e dor frontal e nos dentes. Quando estes sintomas melhoram a dor também se vai. A sinusite não ocorre várias vezes ao mês e a sinusite crônica não agudizada não causa cefaléia. Um estudo americano mostrou que 90% das pessoas que se autodiagnosticavam como tendo dores de cabeça decorrentes de sinusite na verdade tinham enxaqueca. Assim temos uma frase em cefaliatria: “If it’s sinus is migraine” em português : Se é sinusite é porque é enxaqueca!.
“Problemas de vista causam enxaqueca”.
Quase todo mundo que começa a ter dores de cabeça desconfia de que precisa usar óculos ou trocar a lente porque o grau aumentou. Outro grande mito miopia hipermetropia e presbiopia não são causas de dor de cabeça. Só astigmatismos muito graves em crianças causam cefaléia, e mesmo assim não é enxaqueca.
“Problemas na ATM causa enxaqueca”.
As disfunções na ATM (articulação temporomandibular) podem ser causa de dor, geralmente localizada na região da própria articulação e relacionada ao uso (comer algo duro, falar muito, bocejar). Eventualmente, causa dor de cabeça, mas sem característica de enxaqueca. O que pode ser comum são as duas patologias estarem presentes no mesmo paciente sendo que uma pode desencadear a outra. O tratamento multidisciplinar (odontologistas e neurologistas) é o mais indicado.
“Dor de cabeça é uma doença de adulto !”
Entre 4% e 8% das crianças têm enxaqueca. A doença é uma grande causa de faltas à escola, e as queixas são confundidas por muitos pais com golpes para não ir à aula. As dores podem começar por volta dos cinco anos de idade e, em aproximadamente 40% dos casos, acabam espontaneamente na puberdade.
As crises de dor nessa etapa da vida duram menos (de 30 minutos a duas horas) e podem ser aliviadas com tratamento específico. Apesar de, na fase adulta, a enxaqueca afetar três vezes mais as mulheres, na infância ela é ligeiramente mais freqüente nos meninos.
É comum as crianças queixarem-se de dores na barriga, tonteira e enjôo em viagens e brinquedos de rodar. Devemos ficar atentos que isto pode ser ENXAQUECA! muitas vezes confundida com dores de crescimento e vermes comuns nesta idade.
“Quem tem enxaqueca não pode comer chocolates e queijos”
Só um quarto dos portadores de enxaqueca tem crises relacionadas a alimentos. Estresse e ansiedade são gatilhos bem mais comuns. No caso de haver relação com a dieta, os culpados variam entre os pacientes e podem causar crises apenas em alguns momentos. Frituras, chocolate, queijos amarelos, embutidos, vinho tinto e cerveja são algumas das comidas e bebidas que mais influenciam.
Assim como o abuso de analgésicos, a cafeína presente em alimentos como café e refrigerantes de cola pode cronificar a enxaqueca. Estudos recomendam o limite de 250 mg de cafeína por dia (o equivalente a três xícaras de café).